Uma luz celeste saiu por detrás dos prédios quando começou a canção de Gardel. Dois homens, distraídos, continuaram a conversar e os gatos ficaram estáticos e cândidos. Lembro-me, vagamente, de ter sentido um estranho toque do metal, como se fosse domingo. Mas não me lembro de não haver Deus. Sonhei que estaria, talvez, em Paris. Afinal, era apenas Buenos Aires.
Posts Tagged ‘sonhos’
uma desilusão
Posted in Uncategorized, tagged acordar em..., sonhos on Outubro 19, 2012| Leave a Comment »
lembra-me um sonho lindo
Posted in Uncategorized, tagged meteo, sonhos, tempo on Abril 4, 2012| Leave a Comment »
que dia foi este noutros anos? se ao menos me lembrasse que dia foi. vejo-lhe a forma nas nuvens e no vento frio; as searas angustiadas, o coração apertado, a estrada a estilhaçar, isolada. é uma aflição sem causa, adolescente. que este desassossego tem qualquer coisa de bom. lembra-me um sonho lindo, quase acabado.
as portas do céu
Posted in Uncategorized, tagged country boy, sonhos on Abril 1, 2012| Leave a Comment »
desde pequeno que, depois dos talheres cruzados, os acompanhava à vila. ao deixar o monte, ficava a pensar se, na minha ausência, não aconteceriam coisas mágicas, acontecimentos invulgares. a tarde que nasce lenta depois do almoço, premeia sempre os que decidem ficar, os que se deixam estar, sonolentos, numa serenidade natural. na vila, o tempo nunca é natural. à frente da igreja, dois ou três cafés, com os toldos patrocinados envelhecidos, as montras gradeadas, a solidão do progresso desiludido e uma angústia inerte, ansiosa pela segunda-feira. porém, desta vez fiquei, e do sossego digestivo surgiu a música a iluminar o montado e o pequeno lagar, arrancando a alegria das cadeiras de verga, numa valsa livre e solta. os animais brincavam como crianças e os velhos sorriam empolgados com a magia da dança. no caminho de volta, já melancólico, fiquei a ver a seara passar e desaparecer, seca e infértil. acabei por adormecer com a trovoada, ainda com lábios de vinho, enquanto no banco da frente eles ainda falavam da rotina da semana anterior. um pouco mais tarde, acordei com o ruidoso tabuleiro da ponte e vi o domingo pesar e arrastar-se, negro, sobre a cidade. voltei para casa, tonto.
just like the movies
Posted in Uncategorized, tagged sonhos on Novembro 17, 2010| Leave a Comment »
Nunca percebemos na altura. Só algum tempo depois realizamos a cena toda e até a câmara-lenta percebemos que lá estava. Todos os timings perfeitos, a luz certa e a naturalidade. Mas quando a vida imita o cinema há algo que não está bem. Acho que o Chico Buarque já tinha falado nisto.
Creta
Posted in Uncategorized, tagged acordar em..., música, sonhos on Junho 3, 2010| 1 Comment »
Dormimos até tarde e já só esperavam os restos do grande almoço. O sol estalava sobre a mesa. Pegámos nas maçãs e numa garrafa de vinho e saímos pelas sombras mediterrânicas em direcção ao mar. Era uma tarde longa como todas as tardes em que a ilha se ilumina lentamente, onde os campos produzem cultura e a história se ergue em cada colina. Nas casas há um fio de azeite fresco que tempera a brisa e, quando o sol se põe, nasce a ideia clássica que só se encontra nos poemas. Ah!, Creta – minha ilusão libertina e conservadora.
Cordoba
Posted in Uncategorized, tagged acordar em..., música, sonhos on Maio 22, 2010| 1 Comment »
Depois do calor do deserto andaluz chegamos finalmente a Cordoba, à frescura da sua medina colorida; o oasis desejado noutro deserto – o de Maio. No silêncio, pelo meio do branco das pequenas casas, parece ouvir-se o suspirar de Alá vestido de negro. Depois, à sombra da mesquita, um cesto de laranjas frescas e uma ou outra garrafa de Jerez trazida de uma longa viagem de Cádiz. Ah Cordoba!, província infinita, lugar constante do meu sonho.
pequeno lamento optimista
Posted in Uncategorized, tagged estações, sonhos on Dezembro 11, 2009| 1 Comment »
toca a campainha do forno e levo o prato para a mesa onde o pouso com o vagar de mais uma sexta-feira a jantar sozinho. os olhos perdem-se pela mesa e resignados encontram a garrafa, o copo, a sombra do candeeiro e uma nódoa na toalha gasta e cansada de tantas sextas-feiras vazias. no gira-discos roda o song book de gershwin na voz veludosa de fitzgerald. é então que me sinto empurrado e precipito-me pela escada até à rua onde os carros parecem celebrar, os casais deslizam inundados de todo o amor, as crianças brincam sob o brilho directo das estrelas, a lua nasce a correr e uma secção de metais sai detrás de um camião. a bateria tropical ritma um grupo de bailarinos de rua e até francis scott parece sorrir largando o bourbon. um imenso calor de dezembro e meia dúzia de gotas de água pálida descem pelo meu corpo que agora se expande alegremente pelo passeio na tranquilidade de uma caminhada voyeurista. a voz de fitzgerald – é ela que me acorda, então, a meio do banho. limpo as gotas e o calor vai-se desfazendo até enfiar a camisola. saio para jantar acompanhado e talvez tudo possa acontecer.
all is dream
Posted in Uncategorized, tagged música, sonhos on Novembro 6, 2009| Leave a Comment »
acordo estremunhado de um sonho estranho. levanto-me e começo a escrevê-lo aqui. o sonho é pavoroso e eu consigo descrevê-lo na íntegra. entusiasmado, o texto vai saindo com uma fluidez e uma graça pouco habituais. faço a revisão do texto e publico. nada. absolutamente nada. começo a pensar que ainda estou a sonhar e volto ao editor do blog para me certificar que o tinha mesmo escrito. nada. desapareceu no espaço. ou então fui eu que sonhei que tinha escrito sobre um sonho que acabava no pavilhão rosa mota com toda a gente a cantar “a portuguesa”. até porque os sonhos são sempre dos outros. é então que me lembro deste disco e da ideia inicial do sonho dos outros. não há motivo para grandes preocupações ou grandes dramas. mesmo que não me recorde, foi apenas um sonho que eu nem sequer quis ter.