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Archive for Novembro, 2009

mulheres de atenas

leio na fashion de setembro, que encontrei ao acaso numa casa de banho, que uma thurman decidiu ser actriz após ter visto breakfast at tiffany’s. também eu. acontece que por motivos aos quais eu sou totalmente alheio, uma thurman não explica essa sua decisão com questões de ordem humanitária ou intelectual mas sim, veja-se lá, a partir de uma perspectiva feminina, de beleza e de características até um pouco fúteis. uma dessas características era o guarda-roupa de miss hepburn que, curiosamente, era desenhado por givenchy, etiqueta que hoje usa a própria thurman como imagem. e uma parece gostar dessas coisinhas que muitas mulheres julgam diminuir o seu género. talvez lhes soasse melhor se a actriz exigisse a paz no mundo ou queimasse um casaco de pele de raposa. porém, parece que esta prefere o glamour do seu feminismo.

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lá fora continua a chover. lisboa regenera-se com a chuva. os novos u2 estiveram aí com casa cheia, mas em sala fechada, infelizmente. às vezes falta um pouco de chuva para dar banho a esta gente. a própria sala, apesar do nome – pavilhão atântico -, precisava de água. esquece-se o essencial e vive-se o acessório com uma intensidade que não se compreende. e a chuva, ou a peste, como diz artaud, acabam por ser a única solução. na crueza do mundo não há espaço para efeitos especiais.

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linger it longer

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“John Lennon, Lady Di or Elvis Presley?

The Pogues. Or Suicide. Or Bob Dylan. Well, but let’s not be pretentious: Elvis forever. Elvis and his golden voice, with a sheriff’s badge, driving a Mustang and stuffing himself full of pills.”

Roberto Bolaño

“Tem muita lembrança de Portugal. O meu filho português, que nasceu quando eu morava aí em Portugal, o Bentão – tem o nome do ex-guarda-redes do Benfica e da Selecção – , já está, senão me falta a memória, com 28 anos. Ah, Portugal…”

João Ubaldo Ribeiro

aqui, virtual e física, respectivamente

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são coisas

estávamos lá todos. era uma noite de novembro como todas as outras noites de novembro em que transpirávamos por baixo de quilos de roupa e corríamos pelas ruas em êxtase à procura de todo o amor. fomos aquilo num período em que fomos tantas outras coisas. nem sequer nos chegámos a conhecer, acho. quantos éramos, afinal: 40, 50, 60? não sei ao certo, mas sei que eles eram 5.

sei também que éramos diferentes. trazíamos no peito o amargo da ternura. não que a ternura seja amarga. não, não é isso! acontece que por ser ternura e não ser correspondida pelo resto do mundo quando se tem 18 anos é um fardo demasiado pesado e que nos obriga a crescer. compreendemos, então, pela primeira vez, o que é a solidão, num rigor mortis da adolescência. aprendemos a dizer amor com todas as letras possíveis, mas aprendemos a dizer baixinho. e é por isso que ele e que eles foram e são importantes para nós.

há precisamente dez anos atrás, no coliseu que aguardava os violent femmes, os ornatos violeta apresentavam “o monstro precisa de amigos” para um grupo de putos com o coração cheio de vida e com os olhos brilhantes. um deles era eu e dez anos passados acho que já nem me lembro de mim. que é como quem diz “e ao fim não toquei em nada do que em mim tocou.”

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i might be wrong

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25 de novembro

Difamaste quem verdades dizia
Confundiste amor com pornografia
E depois perdeste o gosto
De brincar com as tuas crianças

daqui

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terno

há umas semanas, num jogo do milan, vi leonardo à beira do desespero vestindo um trench coat azul. lembrei-me, naturalmente, dos filmes italianos da década de 80 onde os detectives vestiam sempre gabardines azuis, inspirados por “o polvo”. com um ar sofrido e melancólico, aquele azul condenava-os à desgraça. até tom waits relembra isso em telephone call from istanbul ao afirmar sem tibieza “never trust a man in a blue trench coat, never drive a car when your dead”. aquela peça de roupa mostra um leonardo fragilizado à partida. vai chover, leonardo, e o campo vai ficar enlameado e tu irás desesperar porque a equipa não consegue desenvolver, como um motor gripado.

é claro que nestas condições a imagem de leonardo será sempre a do tapa buracos do clube sem dinheiro, uma espécie de paulo bento à italiana ou, no limite, um chalana resignado. nada comparado com o guardiola de hoje que usava um fato de três peças – um terno, como lhe chamam os brasileiros. só isto já faz dele um vencedor. quando os jogadores olham para o banco não vêem o desespero de um trench coat azul e sabem que não estão num veículo conduzido por um morto. sabem, isso sim, que ali está um homem elegante em quem podem confiar.

a estética do conservadorismo sempre me sugeriu mais confiança que outra qualquer.

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pensamento do dia

“sem milf não há mother fucker”.

estamos de volta e desta vez não seremos misericordiosos.

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o amor é isto, querida

art.  232º

Âmbito do acordo de vontades

O contrato não fica concluído enquanto as partes não houverem acordado em todas as cláusulas sobre as quais qualquer delas tenha julgado necessário o acordo.

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big

os adultos andam sempre aos segredos. esta é a conclusão do paulinho em ratos e borboletas na barriga (uma excelente encenação do meu amigo rui, mas isso agora não interessa para nada, estava-me só a armar). os adultos gostam tanto de segredos que até os oficializam. ele é o segredo profissional, o segredo de justiça, o segredo de estado… tantos segredos. quem tem muitos segredos e os tenta guardar a sete chaves, por uma questão lógica, está a esconder alguma coisa. e quem esconde muitas coisas não pode estar de boa-fé.

os adultos escondem das crianças os seus problemas financeiros para “não os perturbar”. depois quando eles crescem chamam-lhes irresponsáveis por não terem noção da realidade. escondem uns dos outros a sua vida íntima e depois queixam-se que falam deles nas costas. é todo um universo que nunca entendi. os adultos não brincam, arranjam amantes. não sentem remorsos, têm pesos na consciência e depois dormem mal de noite e enchem-se de comprimidos. mas ainda acho mais piada por estarem sempre a impedir as crianças de compreenderem as coisas porque elas são “muito novas”, para depois em discursos pomposos garantirem que as crianças são o “futuro do amanhã” e que temos de apostar nos nossos jovens.

para além disto tudo, os adultos deixam de saber gostar uns dos outros. os seus critérios no amor passam a ser coisas muito relativas, rebuscadas, interesseiras e desesperadas. deixam de dar valor às canções e chegam mesmo a dizer que sentir ratos ou borboletas na barriga é coisa de miúdos na ingenuidade do tempo. eles acham que o cinismo é a resolução dos seus problemas e é isso que os faz crescer. ora, se assim é, crescer é coisa que não me fascina.

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i say yes, you say no. you say stop and i say go go go. oh no! you say goodbye and i say hello.

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pois

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o estranho caso de odelay

o all music guide é a mais completa enciclopédia musical do mundo, tanto física como virtualmente. ao longo dos anos as suas publicações têm sido um contributo inestimável para os melomaníacos, such as this one. acontece que hoje, ao procurar na discografia de beck o ano exacto de um disco em particular, apercebo-me que há uma omissão gravíssima no resto da discografia. não falo de um capricho daqueles descritos por hornby ou de um preciosismo histórico, falo sim de um dos discos mais importantes e influentes dos últimos 20 anos – odelay. o disco de ’95 que seria aclamado por todos como sendo, indiscutivelmente, um das obras maiores da música popular na década anterior, não consta na discografia do autor no site all music. nem a minha mãe ignora tal crime.

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da estética da heroína

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man at work

a oficina da audiência zero que, devagar, vai criando todas as estruturas necessárias para uma sede catita.

só trabalhando todos os dias se compreende algumas idiossincrasias do espantoso mundo da construção civil: o rádio, os piropos, o lápis na orelha, o metro no bolso de trás e por aí fora. não são manias sem sentido, são formas práticas para não deprimir, cada qual com um objectivo próprio. tantos anos com os cornos enfiados em códigos e afinal tenho é jeito para trolha numa velha tradição familiar. o tonecas deve estar orgulhoso.

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11 de Novembro de 1969. Os tempos eram, certamente, outros. Vila Franca era – ela também – outra. Inspirados pela forte cultura tauromáquica da época, um grupo de homens cria uma tertúlia com o objectivo único de pensar e discutir o mundo dos toiros à mesa. Era a afirmação da aficción que manifestava a sua vontade de contribuir para a festa brava. Um mundo que não se discute não cresce e com dificuldade sobrevive.

40 anos passados, a Tertúlia Cirófila mantém a sua vontade de discutir esse esteio da cultura da terra que a viu nascer e que lhe deu o nome. Amigos dos toiros, é certo, mas ainda mais amigos de Vila Franca e das suas singularidades. E é na comemoração do seu quadragésimo aniversário que se percebe que há uma necessidade instintiva de continuar, pois à mesa se sentam três gerações que simbolizam a persistência do passado e a esperança no futuro.

Mas, o mundo dos toiros não se discute em grupos fechados. Por isso, seguindo a sua tradição de abertura a todo o mundo taurino, e não só, a Cirófila teve o prazer de comemorar esta data redonda na companhia de duas figuras de enorme relevância para os toiros e para Vila Franca. Mário Coelho e Ricardo Levezinho foram, nesta noite, um símbolo vivo daquilo que é o passado luminoso de uma cultura e o futuro corajoso do espectáculo, cada um representando a sua fatia do imenso bolo que é o mundo taurino. Reviveu-se a  glória na grandiloquência de Mário Coelho e discutiu-se o presente com os olhos no futuro nas palavras convictas de Ricardo Levezinho.

11 de Novembro de 2009 não assinala apenas uma data. É também um marco para a frente desta tertúlia que, hoje sem um espaço físico, se mantém viva e com vontade de viver e que nesta fase da sua existência contou com o acolhimento sincero e honroso da Tertúlia “O Pampilho” e do seu anfitrião Rui Lopes.

E em memória dos que nos deixaram, a Cirófila contiunuará com o espírito do tempo discutindo-se e discutindo umas quaisquer “cinco en punto de la tarde”.

 

 

 

Texto publicado na Vida Ribatejana

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do impulso

nunca conseguiria criar um blog onde os textos fossem todos, ou em grande parte, calculados e revistos, criados antecipadamente e só depois publicados. na blogosfera, como na vida, sou muito mais morphine do que treat her right.

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a minha confissão pública de ter voltado a utilizar suchard express levantou uma polémica muito grande que não consegui prever. em várias redes sociais, caixas de comentários e até nalguns media (os folhetos de supermercado), a questão foi debatida e a celeuma criada faz-me escrever um pequeno apontamento histórico sobre esta delicada matéria.

enquanto criança fui habituado ao universo espanhol pela sua forte presença no mercado português. durante anos, no meu leitinho, só entrava cola cao. desde os atractivos bonecos até à facilidade na dissolução, tudo no cola cao era aparentemente perfeito. o sabor sempre era melhor que o do pavoroso ovomaltine. ainda tenho pesadelos com este nome… ovomaltine.

ambicionei a minha vida toda por nesquik e, provavelmente, só tive acesso a este objecto da coolness infantil por 2 ou 3 vezes. do cola cao mudámos logo para o suchard express. aos cinco anos eu já dizia com uma extraordinária dicção “suchard express”. na escola não comentava este assunto. nos supermercados pasmava em frente às caixinhas amarelas de formato sui generis com um elegante coelho como imagem de marca. e a palhinha do anúncio. grande. um sonho.

já muito mais tarde, na pré-adolescência, surgiram os cereais nesquik. a minha primeira conquista. pouco depois consegui convencer o fornecedor de pequenos-almoços cá de casa a realizar a tão desejada compra. durante meses vivi num deboche alimentar. fui promíscuo. cheguei mesmo a deitar korn flakes em leite com chocolate e açúcar. num número claramente mais arriscado uma colega de escola ainda lhe juntou mel. foram os loucos anos noventa para o leite com chocolate.

o vício no nesquik acabou por me levar ao fundo dos fundos. era tempo de parar. a limpeza foi feita com ovomaltine. tinha de ser, não havia outra solução. e mais tarde, numa das idas a badajoz, descobrimos outro cacao espanhol de marca própria da cadeia pryca. as embalagens de 5 kg’s e um preço imbatível não deixavam dúvidas: esta seria a grande mudança. e ao longo de mais de uma década, apesar das dificuldades de dissolução no leite e uma quase impossibilidade de o beber frio por motivos estéticos, este produto sem nome, sem imagem, sem carisma e sabor, ensinou-me a humildade e o auto-controlo, coisas que foram destruídas pelo deslumbre e pela ilusão de um mundo melhor com nesquik.

volto, então, ao suchard express, saboreando a elegância de um produto com classe, sóbrio. posso provar todos os outros na mesma. hoje estou limpo e sei o que é melhor para mim.

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