À beira-rio uma pequena ratazana atravessa o passeio até às rochas e regressa apressadamente para dentro do armazém abandonado assim que sente o barco aproximar-se. Um pouco mais distante, um pescador concentrado desenrola a linha da cana enquanto um grupo de turistas o olha fascinado. Didn’t know they still had fish in the river. Ao cais chegam algumas almas cansadas, cabisbaixas e sorumbáticas que entram invisíveis pela gare e desaparecem na sombra do fim-da-tarde. É uma outra cidade que daqui vejo, longe das modas e do design, longe das luzes da Avenida e do glamour urbano. É feia e genuína como nós.
Archive for Abril, 2010
cais do sodré
Posted in Uncategorized, tagged homem na cidade on Abril 30, 2010| 1 Comment »
no caminho de casa
Posted in Uncategorized, tagged estações, física, poesia on Abril 28, 2010| Leave a Comment »
Quando eu era pequeno, e pequeno nos termos do adorável a vários títulos, havia um globo lá por casa que brilhava com uma luz que orientava o olhar a norte e colocava a Terra numa posição quase absoluta. Pensar a Terra como um globo era um exercício e não uma percepção – um dogma civilizacional ou até work in progress. Nada que fizesse alguém, em tão tenra idade, questionar essa verdade insofismável. Era pequeno, apenas pequeno. Os anos trouxeram o resto do Universo, tal como o quotidiano e a poesia; a ciência e o empirismo; a guerra e a paz. Hoje, ao caminhar em bossa nova pelo passeio fatalista da minha rua, vi a Terra ovalar o quarteirão da escola e figurar-se redonda num globo de mar em que as nuvens assumiam a espuma, e a lua, quase longe, fazia o papel da pequena luz marcando uma presença consoladora. Já junto do tosco canteiro suburbano, as flores emanaram um perfume singelo e fresco em guerra breve contra o meu olfacto enfumarado e, à falta de descrição imediata, fiz-me um pequeno Galileu em frente da imensidão.
Caro Eremita,
Posted in Uncategorized, tagged correspondência on Abril 26, 2010| Leave a Comment »
A diferença entre Ourique e Avalon é que por aqui desfruta-se do que a arte nos oferece até ao limite. Não se perde muito tempo a pensar nisso apesar da sua natureza autobiográfica. Quem se preocupa demasiado com a manifestação da sua cultura não aproveita os seus verdadeiros frutos nesse sentido de ser um complemento dos dias. O excesso é a montra da vaidade.
manhã II
Posted in Uncategorized, tagged música on Abril 25, 2010| Leave a Comment »
manhã
Posted in Uncategorized, tagged poesia on Abril 25, 2010| Leave a Comment »
É uma rua como todas as ruas
Numa madrugada serena de Abril
Que, como todas as madrugadas,
Nasceu com as sarjetas e o cheiro
Da minha rua e das outras ruas
De todos os subúrbios do mundo
Onde rapazes como eu esperam
Ver o céu clarear e a luz vir, por fim,
Trazer o dia concreto que é hoje.
canções de amor
Posted in Uncategorized, tagged bíblia, música on Abril 21, 2010| Leave a Comment »
dancemos no mundo
Posted in Uncategorized, tagged quero morder-te as mãos on Abril 18, 2010| Leave a Comment »
Vi-a apenas uma vez. Tinha uns olhos amendoados objectivos e uma franja dessas modernas que lhe favorecia o sorriso claro mas sóbrio. Sonhei com ela agora, passados dias, talvez semanas, e toda essa sua sobriedade dançou alegremente o Domingo.