Posted in Uncategorized, tagged ficção on Agosto 10, 2012|
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Esperei por Karen uns metros à frente da estação de Gayrettepe. O caos, nas costas, com os semáforos avariados. A camisa colada à pele. Não há sombra que nos safe. Da boca do metro saem dezenas de raparigas prontas para casar, em direcção aos escritórios dos pretendidos; pequenas Hepburn’s, compenetradas no papel, que esqueceram o ramadão e procuram a montra da Hermés em hora de reza. Na minha cabeça soa I’m so bored with the USA e Karen surge no meio do calor, como quem traz a civilidade fútil de Time Square no bolso, o que lhe vale ficar retida à entrada do Astoria. O detector apitou e voltou a apitar. Enquanto tira o seu universo da mala, a americana insurge-se contra a disparidade nos critérios de segurança e só pára de falar quando o empregado lhe despeja o menu nas mãos. Javier está atrasado e a conversa das indignações regressa. Porque a América é que é. Os meus olhos começam a seguir uma cortina de fumo que se ergue sobre Besiktas. Imagino as sirenes lá fora, estridentes, os taxistas precipitando-se pelas ruas e os peões a desafiarem a vida. Seja o que Alá quiser. Ao longe, vejo então o Polat em chamas, a beleza do progresso a arder no meio da urbe. Por esta hora, Eminonu estará calma e serena, já só com meia dúzia de vendedores persistentes. Karen assusta-se, preocupada com Javier. Parece quase um bom início de anedota: um português, uma americana e um espanhol… Agita-se na cadeira procurando informações no telefone e pergunta indignada como quer este país ser europeu. O calor passa, enfim, mas na minha cabeça Strummer continua a cantar.
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