Um dia um amigo disse-me que eu não podia gostar da cultura de esquerda. Não era coerente da minha parte ouvir música de intervenção, gostar de poetas anarquistas e escritos libertários. Disse-o com tanta convicção que julguei nunca mais poder ouvir a voz de Vitorino cantando as moças que dançam, livres do Chiado, cantando outros amores, outros campos, outras liberdades.
Cada vez menos falo em discos de sempre e passo mais tempo preocupado em explicar por que razão a eleição deve ser auto-biográfica e não enciclopédica. Senão, como poderiam compreender a minha escolha de Leitaria Garret sem ser pelo cheiro das searas, pelo soar das castanholas que se ouvem do alto do Redondo, pela voz das cantigas e dos cantares, pelas palavras que escorregam agridoces pela principal veia do Chiado, pelo sol ou pelo Horizonte?
Deixe uma Resposta