Todos os movimentos artísticos surgem de uma necessidade, suponho. Quer dizer, é provável que nasçam de uma necessidade de exteriorização. Assim também foi com o rock’n’roll. Mas será que o rock deixou apenas uma pegada social devido à sua ousadia? Julgo que não. O rock dos anos 40 e 50 traz consigo uma característica fundamental da geração que o conduziu – o machismo charmoso e descarado. É claro que não é uma característica exclusiva ou original do rock’n’roll, mas sim dessa geração, ou melhor, desse tempo. Repare-se que até Vinicius de Moraes em “Samba da Benção” projectava a imagem da mulher como alguém que é só perdão em relação ao seu homem. Bonito! O que o rock fez foi potenciar essa realidade.
Compreendendo essas subtilezas do rocker compreende-se facilmente o homem moderno, esse género calculista e egocêntrico ao qual tenho o orgulho de pertencer.
O homem é machista por natureza. Acontece que aqui o machismo não é aquele que as feministas gostam de lhe atribuir (isso é ignorância, minhas senhoras, não é machismo). O machismo natural do homem é uma espécie de egocentrismo meets insegurança.
Senão, vejamos a cronologia da dor de corno rockeira e que está bem patente nas canções do Rei.
Tudo começa com uma confissão de amor adolescente: dá-me a tua mão, és loirinha e fofinha e vamos correr no parque. Nesta altura o rockeiro quer mostrar a sua sensibilidade para além daquele jeito aparentemente brutamontes. Ela acha piada e lá vai na cantiga do bandido. Depois vêm as grandes declarações, os passarinhos e o amor a explodir nos céus. Aleluia! O orgasmo antes dos preliminares, nos anos 50, era muito importante. E hoje ainda funciona. Mas, enfim.
Caidinha de todo, pelo beicinho e mais de 400 cafés e passeios à beira-rio depois, ela lá lhe concede o prazer de uma dança mais a sério. O rockeiro passa então a falar de prisão. Ela pensa que ele é um criminoso, mas no fundo o que ele quer dizer é que a tipa domesticou-o. O que não é inteiramente verdade.
Porém, o leão está adormecido e acaba por meter a pata na poça. Esta parte ele não revela nas canções, mas nós percebemos isso quando ele se arrasta atrás da sua senhora. Não precisa de ter pulado a cerca. O rocker é um tipo caprichoso e egocêntrico por isso a sua única preocupação são os seus problemas e se ela não aceitar isso e achar que também tem sentimentos ele faz cair o Carmo e a Trindade. É isso que temos de perceber porque é aí que está o âmago do rock e, por consequência, do patético homem moderno que não quer uma mulher para amar e partilhar e mais não sei o quê com que elas sonham que ele seja. O que ele quer é uma segunda mãe. Pobre menino, tem medo de ficar sozinho e que mais ninguém o ature, que é o mais provável porque ninguém está para aturar malucos.
Ele tratou-a mal e sabe disso, porque se não soubesse não estava a pedir desculpa à frente de milhões de pessoas e para a posteridade em 45 rotações. É aqui que ele se apercebe que não é mais do que os outros e começa a ter crises de identidade pelo que toca de enfiar comprimidos para aliviar a dor de existir. Estamos todos cheios de pena! Bem, pelo menos ela está porque acaba por regressar e ele, ainda mais violento, acaba de vez com a vida dos dois, que serão miseráveis para todo o sempre.
Se isto acontece hoje? Claro que sim. Ainda é pior porque, depois de se emanciparem, elas ficaram iguais: egocêntricas, caprichosas, alcoólicas e inseguras.
Como sair desta encruzilhada? Nem o Rei sabe.
em parte porque os mortos não debitam pensamentos. vi um filme sobre o rei no outro dia e parece que ficou preso a muita coisa pela palavra, que o pai obrigava a prezar acima de tudo. se assim não fosse, talvez tivesse acabado por encontrar a tal solução em canções futuras [o pezinho já lhe fugia para woodstock e isso].
não venhas para aqui levantar suspeitas sobre o rei, se faz favor.
ei foi assim tão simples?! ja não gosto do Elvis
jorge?